MUNDO, ‘ARGENTINA’: MILEI TOMA POSSE NESTE DOMINGO (10), COM MISSÃO DE REERGUER ECONOMIA; UMA CRISE AGUDA, DEIXADA PELA GESTÃO DA ESQUERDA…ENTENDA MAIS.

MUNDO, ‘ARGENTINA’: MILEI TOMA POSSE NESTE DOMINGO (10), COM MISSÃO DE REERGUER ECONOMIA; UMA CRISE AGUDA, DEIXADA PELA GESTÃO DA ESQUERDA…ENTENDA MAIS.

dezembro 10, 2023 Off Por Jhonny Jhon

Novo presidente se apoia em propostas consideradas radicais para enfrentar crise aguda do país, que possui 40,1% de sua população na pobreza, inflação anual de três dígitos e taxa de desemprego de 6,2%

O novo presidente da Argentina, Javier Milei, toma posse oficialmente neste domingo, 10, após vencer uma das disputas eleitorais mais acirradas do país. O economista libertário de extrema-direita surgiu nesta eleição como um fenômeno inovador, que catalisou a frustração dos eleitores com a situação econômica. O anarcocapitalista, contudo, tem missões difíceis pela frente. A Argentina, terceira maior economia da América Latina, atualmente enfrenta um cenário de crise aguda, com 40,1% de sua população na pobreza, inflação anual de três dígitos, taxa de desemprego de 6,2%, praticamente a mesma de uma década atrás. Entre 1961 e 2022, houve apenas seis anos com superávit fiscal, segundo o Instituto Argentino de Análise Fiscal. Desde 1958, o país assinou mais de 20 acordos de crédito com o Fundo Monetário Internacional (FMI), o mais recente em 2018. Entre as propostas de Milei para resolver a alta inflação argentina, de quase 180% ao ano, está a eliminação do Banco Central e dolarização a economia. O discurso do novo presidente é visto por alguns como extremista, mas talvez efetivo para lidar com 50 anos de graves problemas estruturais na economia argentina.

Professor de Relações Internacionais da UFF e pesquisador de Harvard, Vitelio Brustolin explica que, entre 2002 e 2022, a Argentina aumentou o gasto público em mais de 14,7% em relação ao próprio PIB e boa parte desse gasto é financiado por emissão monetária. Esse movimento gera inflação, que vem acelerando, e as “projeções indicam que essa taxa continuará aumentando neste ano, repetindo o impulso de março e abril, quando atingiu 7,7% e 8,4% respectivamente ao mês”. Ao mesmo tempo em que esse problema cresce, “as taxas de juros não param de aumentar e acabam de chegar ao patamar 97% ao ano, o maior em 20 anos”. Somado a isso, o descontrole do câmbio, que vem ocorrendo de forma severa nos últimos anos – há 48 cotações diferentes para o dólar que circula no país – a Argentina sofre com escassez de dólares e as reservas líquidas do Banco Central estão zeradas, chegando agora ao déficit de US$ 1 bilhão. Brustolin pontua que “com esse nível de inflação e dificuldade de acesso a moedas fortes, os argentinos empobrecem a cada dia.

Carlos Honorato, professor da FIA Business School, esclarece o que representa a proposta de Milei de dolarizar a economia. “Isto quer dizer que a moeda norte-americana seria a moeda oficial da Argentina. A dificuldade é que, em países com economias grandes, como é o caso da Argentina, dolarizar a economia pode criar problemas sérios, inclusive soberania nacional. Dolarizando a economia, o país não tem mais moeda própria e, portanto, não pode fazer política monetária, entre outras coisas”, indica. Contudo, levando em consideração a situação atual do país, Honorato pondera que a dolarização da economia poderia ser benéfica em alguma medida. “O problema central da Argentina é a ausência de reservas substanciais em dólares. Além disso, existe um forte desajuste nas contas públicas, um intenso lobby de setores econômicos e uma dificuldade política quase intransponível para fazer reformas necessárias. Talvez a proposta da dolarização da economia não seria de todo ruim. A partir de um determinado momento, o dólar seria a moeda corrente mesmo que você não tenha um valor muito grande em circulação em papel-moeda. Isso freia a inflação, mas, certamente, criaria empobrecimento coletivo violento”, alerta.

Caroline Silva Pedroso, professora de relações internacionais da Universidade Federal de São Paulo, aponta que existem vários pontos nebulosos nas propostas de Milei, o que faz com que seja difícil imaginar como ele vai conseguir implementar essa agenda e como suas ações vão ser vistas pelos países vizinho. Ela lembra que o novo presidente argentino já declarou que não pretende ter relações com o Brasil pelo fato dele estar sendo governado por Lula, um líder de esquerda. “No campo das relações internacionais, diria que a Argentina pode sofrer grandes rupturas em termos da sua tradição diplomática”, resume. Pedroso acrescenta que isso pode trazer impactos para os argentinos, principalmente ao que diz respeito a dificuldade econômica que eles tem enfrentado. “O fato de a Argentina ter boas relações com diferentes países amplia o leque de possibilidades para que ela consiga superar essas dificuldades internas”. Ela cita como exemplo o fato de que o país acabou de ser aceito no BRICS — passa a fazer parte em janeiro. Contudo, Milei havia dito que, se fosse eleito, não aceitaria o convite para participar. Segundo a professora, o Brics hoje é uma iniciativa importante porque ele tem o Banco dos Brics, o Novo Banco de Desenvolvimento, que é outra alternativa de financiamento para os países, para além daquelas instituições financeiras já consolidadas no mundo, como o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional (FMI), e a Argentina não possui uma grande relação com ela.

A cerimônia de posse de Milei começará formalmente quando o político prestar juramento perante o Congresso, em Buenos Aires, às 11h (mesmo horário em Brasília). Após a formalidade, ele irá se reunir com o presidente em fim de mandato, Alberto Fernandez, que lhe entregará a faixa e o bastão presidenciais. Depois de receber os atributos do cargo, Milei fará um discurso para os parlamentares e seguirá de carro para a Casa Rosada, a sede do Poder Executivo, com escolta. Ele planeja descer do automóvel na Praça de Maio, em frente, e caminhar até o prédio. Na sede do governo, Milei cumprimentará as delegações estrangeiras.  Em seguida, será realizado o Tedeum na Catedral Metropolitana de Buenos Aires, onde haverá um culto inter-religioso, com mensagens de representantes católicos, judeus, muçulmanos e protestantes, que rezarão pelo futuro da Argentina. À noite, haverá uma apresentação especial no Teatro Colón, em Buenos Aires.